terça-feira, 29 de setembro de 2020

 

ENTREVISTA COM SÉRGIO SCHARGEL

O pesquisador e escritor responde ao blog – Parte I

 


                            Gianguido Bonfanti, s/ título, óleo sobre tela, 105 x 110cm, 10/8/2006.


O incansável carioca Sérgio Schargel é escritor, dramaturgo e ensaísta e já publicou em coletâneas e revistas, mas majoritariamente em veículos digitais. Entre seus trabalhos como artista, podem ser citados: poema “BraZil” na “Valittera – Revista literária dos acadêmicos de Letras”, adaptado para uma peça; “Fear”, na “mallarmagens – Revista de poesia e arte contemporânea”. Escreveu também a peça “Dissenso” e uma outra peça está para ser publicada no periódico “Água Viva”, da UnB. Vale citar ainda um ensaio para a revista “Ribanceira” que pode ser entendido, em verdade, como um diálogo entre todas as áreas em que atua: academia, jornalismo e arte. 

Além de algumas peças de prosa e verso menores, Schargel desenvolve, em paralelo, dois projetos artísticos maiores: o roteiro da primeira montagem brasileira da obra Não vai acontecer aqui, de Sinclair Lewis, e um romance, os quais devem ser lançados até 2022. Um outro projeto de Schargel em pauta é o roteiro de um monólogo de e sobre Sylvia Seraphim Thibau, poeta e jornalista, sua bisavó, assassina de Roberto Rodrigues, irmão de Nélson Rodrigues; com esse roteiro, Schargel pretende trazer novamente à luz a figura de Sylvia Thibau, que sofreu um apagamento histórico em função de seu crime.


Como jornalista, além de um ensaio no jornal digital “Nexo”, Schargel vem realizando diversas traduções freelancers de opeds para alguns veículos como “El País”, “Le Monde” e, principalmente, a “Folha de S.Paulo”, na qual publicou cerca de cinco traduções. Também faz clipping, escreve newsletters e cuida do sítio eletrônico de um instituto de pesquisa, entre outros trabalhos menores. Publicou uma reportagem em uma revista internacional, “HanzeMag”, há alguns anos, que Schargel considera o seu trabalho jornalístico preferido, uma vez que a metodologia de investigação foi próxima daquela aplicável a uma pesquisa acadêmica.


Schargel atualmente é mestrando em Literatura pela PUC-Rio e mestrando em Ciência Política pela UNIRIO. É Bacharel em Comunicação Social, Jornalismo e Comunicação Social, Publicidade e Propaganda, ambas pela PUC-Rio.


Sua pesquisa e sua produção artística estão dirigidas à relação entre literatura e política, tangenciando temas amplos como fascismo, autoritarismo, populismo, pós-memória, antissemitismo, integralismo e ditadura militar. Schargel também apresentou trabalhos em eventos como Mostra Bosque, CLAEC, Póscom, entre outros.


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Na primeira parte da entrevista ao Búfalo Celeste, Sérgio Schargel fala sobre a trajetória intelectual que o levou à Ciência Política e à Literatura, sobre a indústria cultural hoje, trata da cultura na nova realidade do mundo virtual e da autonomia da arte e da arte engajada.


Como e por que você se encaminhou para a área de Literatura?

A verdade é que literatura sempre foi minha grande paixão, minha grande área de estudo. Mesmo em épocas em que eu pouco lia em termos teóricos, como no início da graduação, nunca me afastei da ficção. Devo isso aos meus pais, que me colocaram em contato com a literatura desde criança. Aliás, existe uma matéria da revista “ISTOÉ”, de 2001, com uma entrevista comigo de quando eu tinha oito anos, tratando, desde aquela época, da importância da literatura em minha vida. Curiosamente, apesar de ter sido aprovado para Letras, optei por fazer graduação em jornalismo. Sempre tive em mente que queria escrever ficção, mas dez anos atrás, quando entrei na graduação, não conseguia me imaginar como acadêmico e muito menos como professor escolar.


Acho que eu ainda tinha certa visão romântica do jornalismo e sonhava em trabalhar em uma redação enquanto escrevia, em paralelo, romances. Não demorou muito e fui contemplado com a realidade: trabalhos atualizando planilhas e mexendo em redes sociais, o oposto do que eu sonhava. Todavia, não me arrependo da graduação: graças a ela consegui um emprego em um instituto de pesquisa em ciência política que me ajudou muito em diversos aspectos, como contatos com grandes pesquisadores, conhecimento mais aprofundado sobre política, motivação para consumir e produzir e, claro, um salário. Esse trabalho foi essencial no desenvolvimento da minha segunda área de interesse, a ciência política, mas vou chegar lá.


Antes da ciência política, eu criei e mantive, por pelo menos três anos, uma empresa de eventos. Ela até funcionava bem, era inovadora e provavelmente teria futuro se eu investisse nela, chegou até a ser finalista no “Shell LiveWire”, um evento de fomento ao empreendedorismo. Mas esse era um trabalho que eu realmente fazia sem nenhum prazer: não havia nenhum retorno intelectual e, por ser focado em pub crawls, isto é, tours por bares para turistas, eu tinha que aturar estrangeiros bêbados que tinham em geral uma visão bem estereotipada da noite carioca. Em outras palavras, tive que lidar com clientes que assediaram, brigaram e até roubaram. Há tantas histórias bizarras dessa época. Algumas engraçadas, outras apenas horríveis. Lembro-me em particular de uma vez em que um indivíduo, acho que era do Texas, pediu em casamento uma moça que conhecera havia trinta minutos. Tecnicamente a empresa ainda existe, mas espero não ter que voltar a ela nunca mais. Eu detestava aquele trabalho, mesmo porque nunca fui bom em lidar com pessoas.


Quando escrevi minha primeira monografia, na verdade desde um pouco antes, nas aulas de metodologia, percebi que não gostava apenas de ler romances, mas de pesquisar sobre romances. Mais do que isso, que gostava de pesquisar. Era um trabalho que me dava prazer de fato, que eu não tratava como trabalho, bem diferente dos demais. Então não demorou muito pra que eu decidisse que a academia era realmente o que eu precisava. Em 2018, apliquei-me e entrei no mestrado na PUC.


O meu interesse na política parece ser consequência justamente da fragilização democrática que vivemos desde 2013.


Nesse sentido, a literatura veio antes, a política depois. Curiosamente, o meu interesse na política parece ser consequência justamente da fragilização democrática que vivemos desde 2013. Quando o Brasil era estável, economicamente, politicamente e socialmente, meu interesse por política era irrisório. Mas após as contestações e o processo de impeachment de Dilma Roussef, começo pouco a pouco a me interessar. Acho que adveio de uma curiosidade natural de entender aquele processo que parecia, à primeira vista, tão aberrante. Com as eleições de 2018 meu interesse se intensifica, ao ponto de que hoje prefiro estudar teoria política a teoria literária, embora, para mim, nada supere a ficção. Novamente, o interesse cresceu com a curiosidade: eu queria compreender por que uma pessoa tão desprezível havia sido eleita. Mais do que isso, eu queria entender se realmente fazia sentido chamá-lo de fascista, como via muitos o chamando.


Mesmo pouco entendendo de política em 2014, devo dizer que me lembro, naquela época, de conversar com meu pai e prever que um Bolsonaro ou um Feliciano acabaria sendo eleito presidente em algum momento. Podia não ter conhecimento aprofundado em política, mas nunca subestimei a ingenuidade das pessoas. Ingenuidade é, obviamente, um eufemismo.


 

                            Gianguido Bonfanti, s/ título, óleo sobre tela, 105 x 110cm, 25/7/2006.

 

O seu artigo “A manhã renascer esbanjando poesia: o papel da arte na luta contra o ur-fascismo e o anti-intelectualismo” (Dignidade re-vista, v. 4, n° 7, julho de 2019) trata enfaticamente do poder emancipador da arte; a despeito disso, como abordar a ação alienante da indústria cultural, na forma desenvolvida por Adorno e Horkheimer, da qual resultam objetos culturais que são simulacros de arte e, por sua própria natureza massificada, têm um peso desproporcional no espaço simbólico social e nas consciências dos indivíduos?

É uma grande aporia: se, por um lado, qualquer forma de arte é válida, por mais massificada que seja, por outro não é toda arte que cria pensamento crítico. Mas mesmo a arte mais massificada, como, por exemplo, um filme comoTransformers”, pode ser útil em certos aspectos.


Eu vejo com frequência as pessoas, inclusive dentro da academia, tratando a arte, em particular a literatura, como se os livros fossem objetos mágicos e que por si só o ato de ler algo, por pior que o livro seja, já fosse o suficiente para revolucionar o mundo. Nesse sentido, mesmo os livros mais massificados seriam úteis porque qualquer leitura seria válida. Eu rejeito esse pensamento. Livros (e qualquer forma de arte, mas vejo muito isso na literatura, talvez por ser mais o meu campo) não são objetos mágicos, mas uma metodologia para que uma pessoa expresse os seus pensamentos. Em outras palavras, e entendendo ideologia numa visão de Robert Dahl, como o conjunto de crenças de cada indivíduo e, nesse sentido, onipresente inclusive na arte e na ciência, um livro é uma forma de o autor exprimir a sua ideologia. Isso é bastante notável, por exemplo, na literatura distópica. Autores conservadores escrevem sobre futuros arruinados por liberais, liberais escrevem sobre futuros arruinados sobre conservadores. 

Quando Obama foi eleito nos Estados Unidos, Atlas Shrugged [livro de ficção da estadunidense de origem russa Ayn Rand, publicado em 1957, e lançado no Brasil com o título de A revolta de Atlas] retornou à lista de mais vendidos; quando Trump foi eleito, foi a vez de 1984 [romance do escritor britânico George Orwell, publicado em 1949] voltar a ser um best seller. Em outras palavras, um livro é um recipiente de ideias e o leitor, ao lê-lo, forma diálogos com o autor. Nesse sentido, é uma oportunidade de conversa com alguns dos maiores pensadores da história da humanidade. E não há como equiparar a oportunidade que temos de dialogar com um Burke, um Adam Smith, um Stendhal ou um Karl Max, com um diálogo com um autor de auto-ajuda. Não dá pra comparar a troca de experiências com pessoas que estudaram a vida inteira para produzir um magnus opus com um livro de auto-ajuda pseudocientífico que diz que é possível reprogramar sua estrutura molecular para atingir o DNA da riqueza.


Fico em um meio termo entre a fobia da cultura de massa que Adorno tinha e a completa relativização das fronteiras entre literatura de entretenimento e alta cultura.


Isso não significa, porém, que a literatura de entretenimento não possua valor e deva ser atacada ou descartada, em absoluto. Acho que há, sim, uma hierarquia entre cultura de massa e alta cultura, e eu serei bastante criticado pela minha orientadora e por professores/colegas por dizer isso, caso algum dia eles leiam essa entrevista, mas sempre enxerguei dessa forma, talvez conservadora. Acho que fico em um meio termo entre a fobia da cultura de massa que Adorno tinha e a completa relativização das fronteiras entre literatura de entretenimento e alta cultura.


A arte de entretenimento é eficaz no que se propõe: entreter. Ainda não somos máquinas e quase todo ser humano precisa de algum entretenimento em sua vida, especialmente quando somos privados de alternativas reais, como agora com a pandemia. Como, então, negar a importância de uma peça de arte que nos relaxe sem causar uma catarse ou influência significativa nos nossos pensamentos? Mais do que isso, como exigir de um brasileiro médio, em um país desigual como o nosso, que abra mão do seu “Transformers” para assistir “Melancholia”?

Ademais, às vezes a arte de entretenimento pode servir como ponte para outras artes. Ninguém nasce lendo Goethe. Mesmo a literatura de auto-ajuda - e deus sabe como eu odeio essa indústria do coach e da felicidade -, pode ser útil a alguém. A indústria cultural não é a doença, mas um sintoma. Um sintoma de uma “sociedade enjaulada”, para usar um termo de um professor meu, Rob Riemen, ou “sociedade cansada”, para usar um sinônimo de um autor na moda agora, o Byung-Chul Han. Agora, essa sociedade enjaulada é o alimento perfeito para um movimento fascista se alimentar, quando aliado a outros fatores, e isso é algo que o próprio Adorno já tinha percebido ainda em 1950. Porque somos tão vazios, tão cansados, tão cheios de medo, ressentimento, frustração, tristeza, que precisamos preencher esse vácuo desesperadamente com qualquer coisa: drogas, sexo, entretenimento. 

Precisamos estar felizes o tempo inteiro, não há espaço para a tristeza. Huxley já tinha visualizado isso em Admirável mundo novo [romance distópico, publicado em 1932], e diz logo no início do livro “reivindico o direito de ser infeliz”. Agora, quando há uma crise econômica e esse vazio não pode mais ser mais preenchido, quando somos forçados a contemplá-lo dentro de nós, o medo se transforma em raiva, em ódio.


O romance surge como uma forma de arte menor. O entretenimento é a origem do próprio romance. Só depois ele adquire o seu caráter intelectualizado e filosófico.


Agora, como minha querida orientadora Vera Lúcia Follain de Figueiredo afirma em seu livro Os crimes do texto – Rubem Fonseca e a ficção contemporânea [Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003], muitas vezes essa fronteira entre arte de entretenimento e alta arte são irreconhecíveis. Ela usa o caso do Rubem Fonseca, por exemplo, um autor que dialoga com os dois mundos. E a visão do que é alta e baixa cultura muda com o tempo. O romance, por exemplo, surge como uma forma de arte menor. O entretenimento é a origem do próprio romance. Só depois ele adquire o seu caráter intelectualizado e filosófico. 

A nossa compreensão do que é alta e baixa cultura se relaciona diretamente com o cânone. Obras que hoje são canônicas e estudadas por qualquer literato, nem que seja para criticá-las, como Robinson Crusoé ou O conde de monte cristo, surgiram como literatura de entretenimento. E a questão da reprodução maciça também não se sustenta em análise, ao menos na literatura, dado que obras canônicas e que certamente promovem uma reflexão, como 1984, são best sellers com diversas edições.

Não devemos ignorar ainda que o cânone, qualquer cânone, é arbitrário. Ele segrega, exclui, escolhe. E é fruto da sua época, da ideologia dominante. Então é comum termos grandes autores, alta literatura, que foram esquecidos ou propositalmente ignorados pelo cânone. Isso borra ainda mais as fronteiras entre alta e baixa literatura. Temos o exemplo de grandes escritores negros que foram ignorados, porque o cânone por muito tempo foi majoritariamente branco, ou escritoras mulheres que sofreram o mesmo destino, então é válido questionar uma noção subjetiva como o cânone.

 


                            Gianguido Bonfanti, s/ título, óleo sobre tela, 140 x 170cm, 11/7/2006.


Ainda a propósito da indústria cultural: com o mundo virtual e as redes sociais, essa forma de produção massificada de objetos culturais não ascendeu a uma outra escala exponencial muito além daquela conhecida quando da formulação desse conceito, tornando ainda mais estreito o espaço possível para uma arte emancipadora?

Na verdade eu vejo um pouco como justamente o contrário. Não suporto redes sociais e, sem dúvida, devemos muito da recessão democrática global a elas, mas, nesse sentido, vejo a internet e as redes sociais como benéficas. Graças às redes, há uma possibilidade muito maior de que artistas iniciantes e marginais tenham seus trabalhos consumidos e disseminados, ao passo que a grande indústria há anos vem procurando, sem sucesso, conter a pirataria. Claro, por outro lado, para ter visibilidade o pequeno artista acaba sendo absorvido pela lógica do mercado, colocando sua arte no Spotify, Youtube, DeviantArt, ou qualquer outra plataforma. Essas plataformas se tornaram praticamente novos mecenas. É paradoxal, mas na era digital é justamente graças a indústria cultural que as pequenas artes, os pequenos vaga-lumes, acabam encontrando espaço.


Temos diversos exemplos, mas vou usar com o qual eu tenho trabalhado: “Teocrasília”, de Dênis de Melo. “Teocrasília” é uma HQ que imagina uma distopia em um futuro próximo em que, como o título já deixa óbvio, o Brasil “evoluiu” para um autoritarismo teocrático de cunho neopentecostal. A primeira edição foi lançada em livro em 2018. Todavia, Teocrasília só conseguiu ser lançado graças ao financiamento coletivo através da plataforma Catarse, um movimento que vem sendo bastante repetido ao redor do mundo. Então, temos mais um exemplo de como a internet e as redes sociais auxiliam muito na divulgação e disseminação da arte independente, que encontraria muito mais dificuldade para sair do mundo das ideias sem esses impulsionamentos. Desde o início da pandemia, em especial, Dênis vem focando todo o seu trabalho em uma produção voltada para o digital, dando prosseguimento à sua produção de uma forma que antes seria impossível.


Na sua visão, exposta em seu artigo citado, “[a arte] é, por sua própria natureza, uma metodologia para a luta contra hegemonias, para questionar injustiças e paradigmas”. Ao deslocar o fulcro da arte para fora de sua autonomia, não há o risco de a arte ser instrumentalizada e de se subordinar a sua existência a um fundamento que lhe é estranho, pois se trata de outra área da atividade humana, como a política, por exemplo? Foi o que aconteceu nos totalitarismos do século XX, nos quais a arte perdeu a sua autonomia e teve de servir aos fins do regime político de ocasião. Apesar dessa experiência histórica negativa, desconsiderar a autonomia da obra de arte não pode levá-la a um território a ela estranho? A luta contra o obscurantismo, no campo da arte, não deve se dar com os elementos intrínsecos próprios da arte, ou seja, o lúdico e a liberdade humana nele inserida?

Acredito que há certa ingenuidade no campo artístico e acadêmico em sacralizar a arte no sentido de lhe conferir valor supremo, como se ela estivesse deslocada de todas as outras áreas de conhecimento humano. As áreas das humanidades, e a arte com todas elas, dialogam de forma intrínseca entre si atualmente, as ciências humanas são interdisciplinares por sua própria essência dialética. Isso não implica, porém, que exista alguma forma de hierarquia entre elas, e que elas não possuam sua própria autonomia.


A questão com os regimes totalitários é que, justamente por serem totalitários, eles atomizam todos os estratos da sociedade e submetem qualquer pessoa cívica ou jurídica ao jugo do terror. Praticamente não há arte autônoma no totalitarismo porque praticamente não há autonomia no totalitarismo, até mesmo para os membros da seita totalitária. Ainda assim, é importante lembrar que, apesar do nome totalitarismo nos remeter a um controle absoluto, os totalitarismos da realidade, mesmo que em níveis de violência e controle inéditos, não eram completamente absolutos. Mesmo sob o terror, ainda se criou alguma arte autônoma, clandestina, aterrorizada, mas livre dentro do escopo do possível.


Agora, diferente do totalitarismo, e isso é algo interessante, no fascismo/autoritarismo é perceptível uma guerra pela arte. Como vimos no caso de Roberto Alvim interpretando Goebbels naquela cena grotesca, e também com as guerras culturais que vêm acontecendo na Polônia, quando movimentos reacionários tomam o poder, eles procuram capturar a arte para o seu lado. Mas, sem ser totalitários, eles precisam transformar o próprio campo da arte em uma “guerra”, na tentativa de criar uma “arte nacionalista/conservadora”, mas sem poder impedir completamente a arte progressista, de outras ideologias, ou mesmo que se queira apolítica (com a ciência de que o apolítico não existe).


Em outras palavras: muito da autonomia artística depende do regime em que está inserida. Em poliarquias reais, democracias liberais consolidadas, é imprescindível que a arte seja livre. Assim, embora a arte não precise ser panfletária, é ingenuidade acreditar que ela não é ferramenta política, independente de ser autônoma ou não. Não é possível imaginar hoje arte completamente separada de outros campos do saber humano, como que imaculada.



                                                       Sérgio Schargel

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Imagens

Gianguido Bonfanti é amigo de Sérgio Schargel e foi este que indicou que as obras deste artista plástico ilustrassem a postagem.

Bonfanti (São Paulo, 1948) realiza a sua primeira exposição individual, “G. Bonfanti”, em 1967, na Galeria do Centro Cultural Lume, no Rio de Janeiro, com os desenhos produzidos durante a temporada em Roma. Recebe, em 1975, o prêmio na categoria “Desenho” no 2° Concurso Nacional de Artes Plásticas. Em 1978, começa a dar aulas de gravura e fotogravura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV). Leciona gravura de 1980 até 1982 na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Conquista o prêmio na categoria Desenho do 5º Salão Carioca de Arte do Rio de Janeiro com seus pastéis secos. Leciona, entre 1983 e 1985, desenho de modelo vivo e pintura no Museu de Arte Moderna (MAM), Rio de Janeiro. Leciona desenho e pintura, entre 1986 e 1987, na Faculdade da Cidade do Rio de Janeiro. O marchand Thomas Cohn organiza em sua galeria, Thomas Cohn Arte Contemporânea, em 1988, uma mostra individual de suas pinturas geométricas: “Bonfanti”. Obras de sua fase abstrata são organizadas por Paulo Figueiredo, na Paulo Figueiredo Galeria de Arte, em 1991, em São Paulo, na exposição “Bonfanti”. Uma grande individual é organizada, em 1996, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A Anita Schwartz Galeria, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, é inaugurada com uma exposição individual: “Bonfanti”. No mesmo ano, o Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro organiza outra mostra com telas e bicos-de-pena. Exposição individual na Galerie Le Troisième Œil, em Paris, em setembro de 2005. Em 2004, o Museu de Arte Metropolitano de Curitiba (PR) organiza uma mostra individual com trinta trabalhos: “Gianguido Bonfanti”. O artista inaugura a exposição “Bonfanti, peintures et dessins”, em 2006, na Galerie Le Troisième Œil, Bordeaux (França). Em comemoração aos seus quarenta anos de trabalho, é organizada uma mostra retrospectiva, em 2007, que ocupa todo o primeiro andar do Paço Imperial, no Rio de Janeiro.


Fonte:

https://www.gianguidobonfanti.com/cronologia

(Consultada em 28/9/2020).


Fonte das imagens: imagens gentilmente cedidas pelo próprio artista.

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Ludwig van Beethoven (Bonn, Nordrhein-Westfalen, Eleitorado de Colônia [atual Alemanha], 17/12/1770 - Viena, Império Austríaco, 26 de março de 1827}, “Ode à alegria”, quarto movimento, “Allegro assai”, da Sinfonia n° 9, em ré menor, op. 125, regente Leonard Bernstein, Filarmônica de Viena.

A Sinfonia n° 9 foi composta entre 1818 e 1824 e estreou em 7 de maio de 1824, no Kärntnertortheater, em Viena.


A peça musical foi escolhida por Sérgio Schargel.


O ano de 2020 é a efeméride de 250 anos do nascimento do compositor alemão.