segunda-feira, 28 de novembro de 2016


Entrevista com Marcelo Maluf

O autor do romance A imensidão íntima dos carneiros responde ao Blog



É importante que lutemos pela leitura e pela literatura, mesmo que sejamos poucos.


Quanto tempo transcorreu desde a ideia inicial até a redação final do romance?

A ideia inicial do romance data de 2009, 2010. Fiz esboços, anotações, etc. Mas sentei mesmo para escrever em 2012/2013 e finalizei o romance no início de 2015.


No início do romance, o narrador faz menção, de passagem, aos impasses sobre a estrutura narrativa da própria obra que está se desenvolvendo aos olhos do leitor. Dar o nome de Marcelo Maluf ao protagonista ou, em outras palavras, optar pela história familiar como base para o romance forneceu-lhe um chão em que você pudesse se apoiar para ir frente ou, contrariamente, foi um desafio duplo nessa sua primeira investida nesse gênero?

Foi um desafio duplo. Uma loucura mesmo. Eu havia esboçado, anteriormente, alguns romances que fracassaram. Quando entendi que essa história familiar era material para um romance, resolvi enfrentar, tanto a forma quanto o conteúdo. Confesso que não foi um processo tranquilo, mas sobrevivi, eu acho. Na luta com a forma, cheguei a escrever umas trinta páginas com o narrador em terceira pessoa e, depois, as mesmas páginas em primeira pessoa, e submeti o texto à leitura de amigos escritores. O retorno que tive foi que em primeira pessoa o narrador tinha mais força. Segui por esse caminho e, ao fim, gostei do resultado.


Nos últimos anos, houve alguns fatos extraliterários no país com possível impacto sobre a literatura: os novos meios eletrônicos de comunicação, o aumento percentual da presença de crianças e jovens na escola, um início de incremento da renda dos mais pobres, o surgimento de uma juventude propensa a um novo e autônomo ativismo e, sem ser exaustivo, o fenômeno da “literatura das periferias”. Você tem contato permanente com pessoas interessadas em literatura, por meio das oficinas de literatura: há motivo para otimismo com a literatura no Brasil, nos seus mais diversos aspectos: da criação, do público-leitor e das formas de circulação da arte?

Estamos vivendo um momento político de grande retrocesso. Se seguirmos por essa rota, é certo que fracassaremos ainda mais. No entanto, o escritor, o professor, o mediador de leitura, em minha opinião, deve, justamente por isso, fortalecer o seu trabalho e ir ao encontro dos leitores. Não importa se vivemos num momento ruim. Sempre tivemos momentos ruins. Não se trata de ficar conformado, mas também de não desesperançar.

Aliás, em verdade, pouco vi o incentivo à leitura com grande expressão nos programas de educação em geral no Brasil. O que sempre houve, foram iniciativas muito pessoais e de pequenos grupos. É importante que lutemos pela leitura e pela literatura, mesmo que sejamos poucos. Quando encontro as pessoas em oficinas e clubes de leitura, me fortaleço e entendo que o trabalho é lento mesmo. Vivemos num sistema em que a leitura é desvalorizada cotidianamente, vista como coisa de gente avoada, sem os pés no chão. Sendo que, em verdade, é o contrário disso. A leitura te provoca, te faz sonhar, te faz duvidar e te põe em xeque. Aqui falo, especificamente, da boa poesia e da boa prosa. Não de fenômenos de mercado. Por isso, e apesar disso, continuo escrevendo e promovendo a leitura.





segunda-feira, 21 de novembro de 2016



A IMENSIDÃO ÍNTIMA DOS CARNEIROS, DE MARCELO MALUF

A busca da redenção diante das catástrofes da História





Marcelo Maluf, com o seu primeiro romance, fez muito bem à literatura brasileira e reconheceu-o o Júri final do Prêmio São Paulo de Literatura, na edição de 2016, que laureou a obra para a categoria de autor estreante com mais de quarenta anos.

Explico: fugindo ao realismo-naturalista, Marcelo Maluf recorre às memórias e às raízes culturais dos seus antepassados, para criar uma obra que, sem deixar de desenvolver uma profunda reflexão sobre a condição humana – ou, melhor dizendo, por isso mesmo: para adensá-la – reveste-se de livre imaginação e de fantasia não evasionista. Temos aqui, dessa forma, uma obra de arte no seu verdadeiro sentido, por meio da qual, por mecanismos próprios dessa forma de conhecimento, o leitor é convidado, como é característico da modernidade e do lúdico da arte, a participar da maquinaria artística e a romper o automatismo do cotidiano, a fim de alargar a percepção do real, o que, aliás, sempre foi o papel da arte, cuja urgência, contudo, foi potencializada com a força apassivante dos produtos culturais massificados.

Lembremo-nos, a propósito, da reflexão do filósofo alemão Theodor Adorno sobre qual realismo se exige do romance na Modernidade e como esse gênero ainda pode ter algo especial a dizer em oposição ao mundo administrado e à estandardização:

Se o romance quiser permanecer fiel à sua herança realista e dizer como realmente as coisas são, então ele precisa renunciar a um realismo que, na medida em que reproduz a fachada, apenas auxilia na produção do engodo. A reificação de todas as relações entre os indivíduos, que transforma suas qualidades humanas em lubrificante para o andamento macio da maquinaria, a alienação e a auto-alienação universais, exigem ser chamadas pelo nome, e para isso o romance está qualificado como poucas outras formas de arte. (1)

A imensidão íntima dos carneiros coloca em primeiro plano a luta dos indivíduos contra a dor, o sofrimento e, principalmente, o medo que congela e paralisa, e também os poderes entrelaçados da palavra, da memória, do testemunho e da própria arte como instrumentos contra o círculo de ferro - vicioso, infindável e recorrente - da violência e das catástrofes da História.

O medo estava estava no princípio de tudo.
O medo dominou gerações e bebeu em pequenas doses a coragem de muitos homens e mulheres de nossa família. Nós sempre estivemos sob o seu domínio. O medo estava em nossos ancestrais os Gassanidas, em Huran próximo às colinas de Golan. No ano 427 d.C, um sujeito chamado Abu Abdallah, nosso ancestral mais remoto, foi perseguido e morto pelos muçulmanos com 128 golpes de sabre, apenas por ser cristão. Sua mãe, que assistia a tudo, gritava para ele: “Morra como um homem, meu filho, não chore”. Mas Abu Abdallah chorou. Foi ali, nas lágrimas que escorriam de seu rosto, que nasceu o medo que iria chegar até nós.
(Marcelo Maluf – A imensidão íntima dos carneiros. São Paulo, Reformatório, 2015, p. 11).

O romance é divido em quatro partes: O Vento, A Montanha, O Fogo, O Oceano que, utilizando as quatro raízes constitutivas do universo, no entender de Empédocles de Agrigento – o ar, a terra, o fogo, a água –, simboliza a busca das origens e da essência, para decifrar o medo atávico que domina a família do protagonista desde tempos imemoriais.

Marcelo Maluf, personagem-narrador, empreende, juntamente com o avô Assaad - do qual se aproxima e cujos passos segue, numa viagem íntima e existencial (pois o avô morreu em 1966, oito anos antes de Marcelo nascer) -, essa busca da verdade no passado, a fim de libertar ambos do medo que é fonte de angústia e do embotamento da vida, e também, por outro lado, do medo que é motor do ciclo da violência recorrente, pois “o medo também nos torna cruéis e, escravos dele, podemos nos tornar assassinos” (cit., p. 12).

Estabelece-se um paralelismo supratemporal entre as vidas de Marcelo e de seu avô, Assaad Simão Maluf, cujas vozes se alternam no romance: no medo ancestral que os entrelaça, no estranhamento em relação aos lugares onde nasceram e dos quais partiram - Assaad, de Zahle, no Líbano; e Marcelo, de Santa Bárbara D'Oeste, cidade do Estado de São Paulo - , nos carneiros a que se afeiçoaram em suas infâncias (Mustafa e Khnum), nas mulheres que passaram por suas vidas, deixando fundas marcas em suas lembranças.

E há um eco de angústia hamletiana em Assaad, que também contamina Marcelo: o pedido de Simão, pai de Assaad, para que vingue a morte cruel de Adib e Rafiq, irmãos de Assaad, por obra de soldados turcos, em 1920, durante o Império Turco-Otomano, e que motiva a saída de Assaad do Líbano em direção ao Brasil, vindo a fixar-se na cidade de Santa Bárbara D'Oeste. Antes de partir, Simão pede a Assaad:

Nunca diga a ninguém o que aconteceu em nossa casa. (…) Uma desgraça como a nossa é para ser enterrada. Ninguém gosta de estar ao lado de gente que vive lamentando as suas tragédias. Vá viver a sua vida e nos esqueça. O Brasil lhe fará bem.”
(Cit. p. 131)

A dinâmica do romance instala-se por dois motivos propulsores: o ciclo de violência e sua contraface: o medo atávico e ancestral que percorre os séculos desde muito distante no tempo até Assaad, seus filhos e Marcelo e, a isso conectado, o “segredo trágico” de Assaad (p. 24), em outras palavras, a interrupção da memória desse ciclo, que dissemina o mal estar no ramo brasileiro da família Maluf. Ter a consciência dessa tragédia cíclica, por meio da memória e do testemunho, e furtar-se à vingança que a alimenta, é a jornada heroica a que somos convidados nessa promissora estreia em romance de Marcelo Maluf, enriquecida pelos ensinamentos, pelas fábulas, parábolas, enfim, pelo rico imaginário da cultura árabe.

Há um dito popular que diz que do carneiro só não se aproveita o berro. Mas como eu não iria explorar a vida de Khnum como fazem os criadores, eu tive tempo de saber que o berro de um carneiro é a sua imensidão íntima, doada em forma de som para o mundo. Quando um carneiro berra, ele expressa a sua angústia, raiva, medo ou alegria. O berro de um carneiro é a maneira dele de se comunicar com Deus. O Cristo berrou: “Pai, por que me abandonaste?”.
(Cit., p. 113).

*

Marcelo Maluf nasceu em Santa Bárbara D'Oeste, interior do Estado de São Paulo, Brasil, em 1974. É músico e mestre em Artes pela Unesp. Autor do livro de contos Esquece tudo agora (2012) e do infantil As mil e uma histórias de Manuela (2013), entre outros. Vive em São Paulo desde 1999.




                 "O pensador", Gibran Khalil Gibran

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  1. Posição do narrador no romance contemporâneo”, in: Theodor Adorno - Notas de literatura I, 2ª ed., trad. Jorge de Almeida, São Paulo, Duas Cidades, Ed. 34, 2012, p. 57.



domingo, 13 de novembro de 2016



Os sertões, de Euclides da Cunha

Há cento e vinte anos, começava a repressão a Canudos








"Arraial de Canudos, visto pela Estrada do Rosário", Demétrio Urpia, litografia, 1897 (1).


Relata o general Frederico Solon, comandante do 3° Distrito Militar:
A 4 de novembro do ano findo (1896) em obediência à ordem já referida, prontamente satisfiz a requisição, pessoalmente feita pelo dr. Governador do Estado, de uma força de cem praças da guarnição para ir bater os fanáticos do arraial de Canudos, asseverando-me que, para tal fim, era aquele número mais que suficiente.
Confiado no inteiro conhecimento, que ele devia ter, de tudo quanto se passava no interior de seu Estado, não hesitei; fazendo-lhe apresentar, sem demora, o bravo tenente Manuel da Silva Pires Ferreira, do 9° Batalhão de Infantaria, a fim de receber as suas ordens e instruções, o qual, para cumpri-las, seguiu, a 7 do dito mês, para Juazeiro, ponto terminal da estrada de ferro, na margem direita do rio São Francisco, comandando três oficiais e 104 praças de pré daquele Corpo, conduzindo apenas uma pequena ambulância, fazendo eu seguir logo depois um médico com mais alguns recursos para o exercício da sua profissão. O mais correu pelo Estado.”
(Euclides da Cunha - Os sertões - Campanha de Canudos. Edição, prefácio, cronologia, notas e índices Leopoldo M. Bernucci, 2a. ed., São Paulo, Ateliê Editorial, 2001, “A luta – Preliminares", pp. 342-343).

Conforme conta o general Solon, coincidentemente sogro de Euclides da Cunha (Cantagalo, RJ, 20/1/1866 - Rio de Janeiro, RJ, 15/8/1909), em documento recolhido pelo escritor e incluído na sua obra magna, no dia sete de novembro de 1896 o destacamento comandado pelo tenente Pires Ferreira chegou a Juazeiro, de trem, distante mais de duzentos quilômetros de Canudos.

A partir de um fato banal, mas que se desenvolvia sob o pano de fundo de tensões e contradições decorrentes das andanças e peregrinação, havia vinte e dois anos, de Antonio Conselheiro pelos sertões da Bahia e de Sergipe, tinha início, o conflito de Canudos.

A total incompreensão das autoridades da época sobre o que se passava em Canudos, o uso desmedido da força bruta e o bárbaro desfecho do conflito – vitimando a quase totalidade da população de vinte mil pessoas do Arraial - tornaram-se fatos centrais na História brasileira. Por isso, Canudos fixou-se, principalmente por força do relato épico de Euclides da Cunha, como o conflito-símbolo de todas as recorrentes e igualmente violentas repressões em nosso país, recolocando em questão, entre nós, para usar a expressão de Celso Furtado, a construção continuamente interrompida da nossa formação nacional.

Três anos antes, Antonio Conselheiro e seus seguidores haviam se fixado na região de Canudos, rebatizada pelo líder religioso como Belo Monte.
A então comarca de Canudos teve um marco especial na evolução de seu povoamento quando, em 1785, o frei capuchinho italiano Apolônio de Todi, que andava pela região em missão religiosa, ali esteve e, congregando os fieis, edificou uma Via Sacra. Com o tempo, o local tornou-se centro de romarias, propiciando um crescimento da povoação.

Logo que chegou à localidade, Antonio Conselheiro construiu uma igreja, dedicada a Santo Antonio, onde só havia uma capela, e planejou construir uma outra muito maior – Igreja de Bom Jesus – cujas obras iniciaram-se em 1896. Justamente daí, aguçados por tramas anteriores, desencadeiam-se os fatos.



http://www.patrimoniovivo.org.br/wordpress/wp-content/uploads/2014/02/xilo-Conselheiro1.jpg


Xilogravura, João Pedro do Juazeiro, 2014


Antonio Conselheiro adquirira em Juazeiro certa quantidade de madeiras, que não podiam fornecer-lhe as caatingas paupérrimas de Canudos. Contratara o negócio com um dos representantes daquela cidade. Mas ao terminar o prazo ajustado para o recebimento do material, que se aplicaria no remate da igreja nova, não lho entregaram. Tudo denuncia que o distrato foi adrede feito, visando rompimento anelado.
O principal representante da justiça do Juazeiro tinha velha dívida a saldar com o agitador sertanejo, desde a época em que sendo juiz do Bom Conselho fora coagido a abandonar precipitadamente a comarca, assaltada pelos adeptos daquele.
Aproveitou, por isto, a situação, que surgia a talho para a desafronta. Sabia que o adversário revidaria à provocação mais ligeira. De fato, ante a violação do trato, aquele retrucou com a ameaça de uma investida sobre a bela povoação de São Francisco; as madeira seriam de lá arrebatadas, à força.
(Id., ibid., pp. 339-340).


Ao fim da batalha, que se deu na localidade de Uauá, a cem quilômetros de Canudos, muito embora os sertanejos dispusessem de armamento grosseiro e tivessem baixas muito maiores – cento e cinquenta ante as dez perdas entre as forças oficiais -, o comandante desistiu de prosseguir na empresa


Assombrara-o o assalto. Vira de perto o arrojo dos matutos. Apavorara-o a própria vitória, se tal nome cabe ao sucedido, pois as suas consequências o desanimavam. O médico da força enlouquecera... Desvairara-o o aspecto da peleja. Quedava-se, inútil, ante os feridos, alguns graves.
A retirada impunha-se, por tudo isso, urgente, antes da noite, ou de um outro recontro, ideia que fazia tremer aqueles trinfadores. Resolveram-na logo. Mal inumados na capela de Uauá os companheiros mortos, largaram dali sob um sol ardentíssimo.
Foi como uma fuga.
(…)
E as linhas do telégrafo transmitiram ao país inteiro o prelúdio da guerra sertaneja.
(Id., ibid., pp. 351-352).


*

O assalto final contra os sertanejos iniciou-se no dia 1° de outubro de 1897. Os últimos quatro combatentes – dois homens, um velho e um menino – tombaram no dia cinco do mesmo mês.

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Euclides da Cunha acompanhou pessoalmente o conflito, como correspondente, a convite de Júlio Mesquita, proprietário do jornal “O Estado de S. Paulo”. Chegou à região no dia 30 de agosto de 1897, lá permanecendo até o dia 3 de outubro. A redação do livro foi iniciada imediatamente após o seu retorno da Bahia.
Nota cômica: em dezembro de 1901, ante o desinteresse do diretor da editora Livraria Laemmert, o escritor resolve bancar parcialmente a publicação do livro. A obra é lançada um ano depois e torna-se um sucesso de vendas, recebendo críticas altamente elogiosas dos principais críticos da época: Araripe Júnior, José Veríssimo e Sílvio Romero. Uma segunda edição foi lançada em junho do ano seguinte.
Nascia um clássico da literatura brasileira.

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Euclides da Cunha foi eleito em 21 de setembro de 1903 para a cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras; tomou posse no dia 18 de dezembro de 1906, sendo recebido pelo acadêmico Sílvio Romero.

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Uma mente tão privilegiada e inquieta, reunindo conhecimentos científicos, artísticos e filosóficos de sua época, Euclides da Cunha teve a vida tragicamente abreviada, ao morrer no dia 15 de agosto de 1909, aos quarenta e três anos, alvejado por quatro tiros, desferidos pelo cadete Dilermando de Assis, amante de sua esposa, Anna de Assis.

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O impacto dessa mancha na história brasileira, repercutida pela obra-prima de Euclides da Cunha, é tão grande que, afora a reprodução no imaginário de incontáveis artistas brasileiros, nos mais diversos gêneros artísticos, houve repercussão inclusive fora das fronteiras nacionais. Dois escritores estrangeiros, entre outros, impressionados com a leitura do épico da nossa literatura, recriaram, cada um a seu modo, os episódios de Canudos.

Mário Vargas Llosa visitou os locais do conflito e conversou com moradores da região, para redigir o romance A guerra do fim do mundo, lançado originalmente em 1982 (publicado no Brasil pela Alfaguara, trad. Ari Roitman e Paulina Wacht, 2008, 608 pp.).

Também o escritor húngaro Sándor Márai publicou em 1970, no Canadá, uma versão ficcional dos fatos - Veredicto em Canudos -, após ler uma versão em inglês da obra brasileira. O romance de Márai foi publicado no Brasil pela Companhia das Letras, em 2002 (trad. Paulo Schiller, 160 pp.).




Euclides em perfil retratado por George Huebner e Libânio do Amaral. Manaus, Amazonas, [nov.] 1905



Euclides da Cunha, retratado por George Huebner e Libânio do Amaral, Manaus (AM), 1905.

Euclides em perfil retratado por George Huebner e Libânio do Amaral. Manaus, Amazonas, [nov.] 1905


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(1) Essa litografia foi feita pelo então juiz da comarca de Tucano (BA), com base em informações de oficiais da Expedição Moreira César, derrotada pelos sertanejos no início de março de 1897.







 "A história fará sua homenagem", Gereba Barreto e Ivanildo Vilanova, 2015, nos cento e oitenta e cinco anos de nascimento de Antonio Vicente Mendes Maciel (Quixeramobim, CE, 18/3/1830 - Canudos, BA, 22/9/1897), o Antonio Conselheiro.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016




Há cento e quinze anos nascia Cecília Meireles:

Um caminho singular no Modernismo brasileiro





"A onda", Anita Malfatti (1917)


Há cento e quinze anos, em sete de novembro de 1901, nascia Cecilia Benevides de Carvalho Meireles, na cidade do Rio de Janeiro, uma das poetas mais queridas do Brasil.

Com uma carreira artística e uma atividade intelectual prodigiosas para uma mulher da primeira metade do século passado, Cecília Meireles foi educadora vocacionada e militante da causa da Educação pública, professora universitária, estudiosa do folclore, jornalista, viajante atenta e apaixonada e, acima de tudo, poeta que teve a coragem silenciosa de seguir o seu próprio caminho, em oposição ao impulso moderno pelos manifestos e programas, que guiou a trajetória de tantos escritores ao longo do século.

Possivelmente por causa desse “caminho singular”, falta uma compreensão mais abrangente dessa trajetória e uma interpretação das opções formais e temáticas da escritora que, fiel ao intimismo, à musicalidade do verso – que dominou como poucos em nossa poesia - e à observação e investigação delicada e minuciosa dos seres, produziu uma obra de inúmeros pontos altos e admirável na sua coerência e na sua organicidade.

Cecília Meireles faleceu na mesma cidade do Rio de Janeiro, no dia nove de novembro de 1964.

A ela voltaremos, por dever de ofício.


PEQUENA FLOR


Como pequena flor que recebeu uma chuva enorme
e se esforça por sustentar o oscilante cristal das gotas
na seda frágil, e preservar o perfume que aí dorme,

e vê passarem as leves borboletas livremente,
e ouve cantarem os pássaros acordados sem angústia,
e o sol claro do dia as claras estátuas beijando sente,

e espera que se desprenda o excessivo, úmido orvalho
pousado, trêmulo, e sabe que talvez o vento
a libertasse, porém a desprenderia do galho,

e nesse temor e esperança aguarda o mistério transida
assim, repleto de acasos e todo coberto de lágrimas
há um coração nas lânguidas tardes que envolvem a vida.



Da obra: "Vaga música" (1942), in: Cecília Meireles - Obra poética. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1987, p. 171.



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