Há cento e quinze anos nascia Cecília Meireles:
Um caminho singular no Modernismo brasileiro
"A onda", Anita Malfatti (1917)
Há
cento e quinze anos, em sete de novembro de 1901, nascia Cecilia
Benevides de Carvalho Meireles, na cidade do Rio de Janeiro, uma das
poetas mais queridas do Brasil.
Com
uma carreira artística e uma atividade intelectual prodigiosas para uma mulher da
primeira metade do século passado, Cecília Meireles foi educadora
vocacionada e militante da causa da Educação pública, professora
universitária, estudiosa do folclore, jornalista, viajante atenta e
apaixonada e, acima de tudo, poeta que teve a coragem silenciosa de
seguir o seu próprio caminho, em oposição ao impulso moderno pelos
manifestos e programas, que guiou a trajetória de tantos
escritores ao longo do século.
Possivelmente
por causa desse “caminho singular”, falta uma compreensão
mais abrangente dessa trajetória e uma interpretação das opções formais e temáticas da escritora que, fiel ao intimismo, à
musicalidade do verso – que dominou como poucos em nossa poesia - e
à observação e investigação delicada e minuciosa dos seres,
produziu uma obra de inúmeros pontos altos e admirável na sua
coerência e na sua organicidade.
Cecília Meireles faleceu na mesma cidade do Rio de Janeiro, no dia nove de novembro de 1964.
A
ela voltaremos, por dever de ofício.
PEQUENA FLOR
Como pequena flor
que recebeu uma chuva enorme
e se esforça por
sustentar o oscilante cristal das gotas
na seda frágil, e
preservar o perfume que aí dorme,
e vê passarem as
leves borboletas livremente,
e ouve cantarem os
pássaros acordados sem angústia,
e o sol claro do
dia as claras estátuas beijando sente,
e espera que se
desprenda o excessivo, úmido orvalho
pousado, trêmulo,
e sabe que talvez o vento
a libertasse,
porém a desprenderia do galho,
e nesse temor e
esperança aguarda o mistério transida
— assim,
repleto de acasos e todo coberto de lágrimas
há um coração
nas lânguidas tardes que envolvem a vida.
Da obra: "Vaga música" (1942), in: Cecília Meireles - Obra poética. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1987, p. 171.
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