Sosígenes Costa: o grande poeta pavônico da Bahia
O
última dia quatorze marcou os cento e quinze anos de nascimento do
ilustre poeta de Belmonte, Bahia, que faleceu no Rio de Janeiro há
quarenta e sete anos, em cinco de novembro de 1968.
Podemos
associar a obra de Sosígenes Costa à beleza e aos passos do pavão,
ave-símbolo de sua poesia: enquanto o pavão é um motivo recorrente
nos seus escritos poéticos, o reconhecimento da obra do poeta
caminha lentamente, muito embora uma quantidade crescente de
estudiosos e admiradores, entre os quais o autor deste
blog, reivindiquem para o artista baiano o lugar que lhe cabe no
panteão do Modernismo brasileiro.
É
provável que o reconhecimento, ainda limitado, do poeta seja vítima
de sua personalidade retraída: a sua Obra poética
só veio a lume em 1959, pela editora Leitura, e, ainda assim, por
insistência de amigos, quando o autor já estava aposentado,
residindo no Rio de Janeiro. O livro foi
agraciado, em 1960, com o prêmio Jabuti, na primeira edição dessa
láurea.
Sosígenes
Costa, nascido na litorânea Belmonte, passou a maior parte de sua
vida em Ilhéus, região da “civilização do cacau”; nessa
cidade, em que produz a maior parte de sua obra, tinha os ofícios de
telegrafista do Departamento de Correios e Telégrafos e secretário
da Associação Comercial.
O
verso da folha de rosto da primeira publicação do poeta fazia
menção à edição próxima da Obra poética II; o
poeta faleceu, contudo e tal não aconteceu.
Dez anos após a morte do poeta, uma reedição dá maior repercussão à sua obra
Passados
dez anos da morte do poeta e motivado pelos comentários de James
Amado (*), José Paulo Paes (**) entra em contato com o irmão de
Sosígenes, Octavio Marinho da Costa, e tem acesso a uma mala com
manuscritos e datiloscritos do escritor. Num diligente trabalho de
filologia, buscando, a partir do material que lhe foi confiado,
reconstituir o que seria a vontade do autor, Paes faz publicar,
no mesmo ano, em edição da Cultrix e Instituto Nacional do Livro,
uma nova edição revista e ampliada da Obra poética (317
pp.), contendo os poemas constantes da publicação de 1959, ora
acrescida do que seria a Obra poética II.
No
ano seguinte, em 1979, seria publicado, igualmente pela Cultrix e com
texto fixado por Paes – responsável também pela Introdução e
glossário, Iararana (115
pp.), longo poema dedicado ao cacau, com apresentação de Jorge
Amado e ilustrações e capa de Aldemir Martins.
Antes,
em 1977, Paes publicara Pavão, parlenda, paraíso - uma tentativa
de descrição crítica da poesia de Sosígenes Costa (Cultrix;
119 pp.).
Temos,
portanto, um dívida inestimável para com José Paulo Paes, que
empregou energia e esforços para reposicionar a obra de Sosígenes
Costa no panorama da poesia brasileira, uma tarefa que ainda está em
andamento e, assim, cabe às novas gerações dar continuidade à
recepção desse legado, fazendo jus a uma das poesias mais
inventivas de nossas letras.
Trataremos
aqui de literatura de diversas épocas e estilos, mas voltaremos, de
forma intermitente, ao poeta grapiúna, celebrando a sua obra.
“Poeta
do mar, poeta do cacau, poeta social marcado por seu tempo, tão
requintado e ao mesmo tempo tão popular, pois grande parte de sua
obra se baseia na vida do povo e dela se alimenta – folclore,
hábitos, expressões, humanismo – ele ficará nas nossas letras
como uma dessas grandes árvores isoladas que se destacam na
floresta”.
Jorge
Amado
(“O
grapiúna Sosíges Costa”, “Apresentação”, in: Iararana,
op. cit.).
Sosígenes Costa
__________
*
Ilhéus, Bahia – 1922 – Salvador, Bahia – 2013;
romancista, tradutor e jornalista; irmão de Jorge Amado.
**
Taquaritinga, São Paulo, 1926 – São Paulo, São Paulo, 1998;
poeta, tradutor, crítico e ensaísta literário.
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