domingo, 23 de outubro de 2016


Sosígenes Costa: o grande poeta pavônico da Bahia


 


O última dia quatorze marcou os cento e quinze anos de nascimento do ilustre poeta de Belmonte, Bahia, que faleceu no Rio de Janeiro há quarenta e sete anos, em cinco de novembro de 1968.



Podemos associar a obra de Sosígenes Costa à beleza e aos passos do pavão, ave-símbolo de sua poesia: enquanto o pavão é um motivo recorrente nos seus escritos poéticos, o reconhecimento da obra do poeta caminha lentamente, muito embora uma quantidade crescente de estudiosos e admiradores, entre os quais o autor deste blog, reivindiquem para o artista baiano o lugar que lhe cabe no panteão do Modernismo brasileiro.



É provável que o reconhecimento, ainda limitado, do poeta seja vítima de sua personalidade retraída: a sua Obra poética só veio a lume em 1959, pela editora Leitura, e, ainda assim, por insistência de amigos, quando o autor já estava aposentado, residindo no Rio de Janeiro. O livro foi agraciado, em 1960, com o prêmio Jabuti, na primeira edição dessa láurea.



Sosígenes Costa, nascido na litorânea Belmonte, passou a maior parte de sua vida em Ilhéus, região da “civilização do cacau”; nessa cidade, em que produz a maior parte de sua obra, tinha os ofícios de telegrafista do Departamento de Correios e Telégrafos e secretário da Associação Comercial.



O verso da folha de rosto da primeira publicação do poeta fazia menção à edição próxima da Obra poética II; o poeta faleceu, contudo e tal não aconteceu. 

Dez anos após a morte do poeta, uma reedição dá maior repercussão à sua obra 




Passados dez anos da morte do poeta e motivado pelos comentários de James Amado (*), José Paulo Paes (**) entra em contato com o irmão de Sosígenes, Octavio Marinho da Costa, e tem acesso a uma mala com manuscritos e datiloscritos do escritor. Num diligente trabalho de filologia, buscando, a partir do material que lhe foi confiado, reconstituir o que seria a vontade do autor, Paes faz publicar, no mesmo ano, em edição da Cultrix e Instituto Nacional do Livro, uma nova edição revista e ampliada da Obra poética (317 pp.), contendo os poemas constantes da publicação de 1959, ora acrescida do que seria a Obra poética II.



No ano seguinte, em 1979, seria publicado, igualmente pela Cultrix e com texto fixado por Paes – responsável também pela Introdução e glossário, Iararana (115 pp.), longo poema dedicado ao cacau, com apresentação de Jorge Amado e ilustrações e capa de Aldemir Martins.


Antes, em 1977, Paes publicara Pavão, parlenda, paraíso - uma tentativa de descrição crítica da poesia de Sosígenes Costa (Cultrix; 119 pp.).



Temos, portanto, um dívida inestimável para com José Paulo Paes, que empregou energia e esforços para reposicionar a obra de Sosígenes Costa no panorama da poesia brasileira, uma tarefa que ainda está em andamento e, assim, cabe às novas gerações dar continuidade à recepção desse legado, fazendo jus a uma das poesias mais inventivas de nossas letras.



Trataremos aqui de literatura de diversas épocas e estilos, mas voltaremos, de forma intermitente, ao poeta grapiúna, celebrando a sua obra.



Poeta do mar, poeta do cacau, poeta social marcado por seu tempo, tão requintado e ao mesmo tempo tão popular, pois grande parte de sua obra se baseia na vida do povo e dela se alimenta – folclore, hábitos, expressões, humanismo – ele ficará nas nossas letras como uma dessas grandes árvores isoladas que se destacam na floresta”.



Jorge Amado

(“O grapiúna Sosíges Costa”, “Apresentação”, in: Iararana, op. cit.).




 
Sosígenes Costa
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* Ilhéus, Bahia – 1922 – Salvador, Bahia – 2013; romancista, tradutor e jornalista; irmão de Jorge Amado.


** Taquaritinga, São Paulo, 1926 – São Paulo, São Paulo, 1998; poeta, tradutor, crítico e ensaísta literário.






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